sábado, 31 de outubro de 2009

Cândido Agra - Entrevista

Que avaliação faz do contexto recente de violência do Porto?

Durante dois anos, fizemos um estudo sobre situações de conflito ocorridas nas três zonas de concentração de diversão nocturna do Porto. Estas foram as únicas estudadas e não as zonas “mais problemáticas”. No geral, a noite do Porto não é percebida como “violenta”. Os conflitos mais frequentes não têm consequências de maior e resolvem-se sem intervenção externa. Mas o estudo aponta para situações relacionada com casos recentes. Regra geral estudam-se os fenómenos à posteriori. Quando se estudam… Neste caso sucedeu contrário.


Como está o Observatório de Segurança?

O Observatório dos Riscos Urbanos e da Segurança (ORUS), criado em 2005 através do protocolo entre a Câmara e a Faculdade de Direito da Universidade do Porto – Escola de Criminologia, está a ser repensado. A autarquia não tem recursos para cumprir o acordado. Mas não desisto. Estou a fazer diligências para criar na universidade uma estrutura de investigação sobre a insegurança e o risco associados ao comportamento humano.


Criminalidade organizada, que fazer?

Com demasiada facilidade utilizamos nomes que não correspondem às coisas. Fala-se em crime organizado, gangs, máfias. Ao ler e ouvir os comentadores até parecemos autorizados a dizer criminalidade organizada quando dois ou três delinquentes se encontram numa esquina. Este tipo de crime exige abordagens complexas.

Sobre isso, o debate científico na Criminologia é ainda embrionário. No conhecimento do tipo e dimensão da sua criminalidade, de politicas criminais e de segurança, Portugal está no pódio do amadorismo, oportunismo político e pressão mediática. Nisto, é lastimável a situação do País. Devemos tomar consciência e responsabilidade pelo real fosso, que tende a alargar-se, entre Estado e os cidadãos em matéria de crime e se segurança; e criar dispositivos de conhecimento objectivo e sistemático da criminalidade, independentes de flutuações político-partidárias, que apoiem, sem as determinar, a definição de políticas criminais e de segurança consistentes e pragmáticas.



(…)



FONTE: Revista VISÃO, de 20 de Setembro de 2007


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